Em meio ao impasse das novas regras da aposentadoria a serem implementadas no Brasil, uma ampla discussão sobre o assunto vem mobilizando brasileiros preocupados com seu futuro. Muitos se perguntam se estarão vivos quando conseguirem a aposentadoria do INSS. O governo quer mudar as regras, resta saber no entanto se haverão empregos para trabalhadores acima de 50, 60 anos em diante. Muitas dúvidas pairam no ar.
O Jornal espanhol EL País publicou o artigo a seguir sobre a triste situação dos idosos sem aposentadoria em Hong Kong. Espero que nós brasileiros não tenhamos que chegar um dia a esse ponto, uma situação de desamparo tão grande.
Vendedores ilegais durante a noite e coletores de papelão de dia, cerca de 90.000 pessoas como Liu combinam vários trabalhos para poder chegar ao fim do mês. Com o dinheiro que conseguem e as minúsculas ajudas que recebe do Governo, resistem em uma cidade na qual o contraste entre ricos e pobres está em todos os cantos. Mulheres idosas, cujas costas sofridas desenham um ângulo de 90 graus, empurram com suas esgotadas forças carrinhos cheios de material reciclável pelas ruas do coração financeiro da cidade enquanto abrem caminho entre os executivos e os arranha-céus.
“Em Hong Kong, 85% dos mais velhos não têm nenhum tipo de aposentadoria”, diz Ng Wai-tung, trabalhador da ONG Sociedade para a Organização da Comunidade (SOCO). Desde 2000, a cidade tem um sistema de contribuição obrigatório, mas de gestão privada – conhecido como MPF –, de modo que as pessoas com mais de 70 anos não gozam de qualquer plano desse tipo. “Não acho que o MPF seja útil”, diz Ng.
O Professor universitário Nelson Chow Wing-sun tem a mesma opinião, considerando esse programa “ridículo pela pobre renda gerada”. O costume de que sejam os filhos que cuidem dos pais idosos está profundamente enraizado na sociedade chinesa. No entanto, cada vez é maior o número dos que, levados pelo ritmo frenético da vida imposta pela cidade, deixam de lado os pais que, orgulhosos e teimosos, procuram sua maneira de sobreviver.
“O dinheiro do Governo não é suficiente, mas não peço mais. Claro que, se um dia não puder mais trabalhar, quero que as autoridades me ajudem”, diz a senhora Chan, 79 anos, de seu posto ilegal onde vende e vive no coração de Sham Shui Po. Em uma velha cadeira de plástico, esta mulher com cabelos lisos e grisalhos e uma curva acentuada nas costas explica que suas três filhas ofereceram suas casas para dormir, mas não compensava. “Estou muito velha e agora não faz nenhum sentido mudar. Demoro duas horas para chegar na casa delas e ainda tenho que empurrar o carrinho. Hoje vivo aqui e posso morrer amanhã”.
“Se você só quer receber, é um vagabundo. É um estigma social muito negativo”, diz Ng. Assim, às 5h30, a Sra. Chan vai até a porta de alguns dos McDonalds e lojas abertas 24 horas que estão por toda a cidade para recolher papelão e papel. Como se fosse um trabalho regulado, às terças, quintas e sábados vende o material coletado, mas não sem antes ter umedecido para ganhar no peso. O resto do tempo é gasto coletando objetos que já de noite vende a outras pessoas que tampouco gozam de uma situação tranquila.
Entrar em um edifício com guardas de segurança que rondam os setenta anos – embora com rostos que fazem com que pareçam nonagenários – e se apoiam cochilando no balcão é parte do dia a dia de uma cidade que prioriza megaprojetos e investe uma quantidade mínima na criação de um sistema para proteger sua população no futuro. Em 2050 espera-se que 42% dos habitantes desta metrópole tenha mais de 65 anos, que vai transformá-la na cidade asiática com a população mais velha, um desafio que o Governo da cidade não consegue enfrentar.
Desde o ano passado, a senhora Fok não pode mais trabalhar por causa de um problema no joelho depois de anos de esforço carregando pesos de um lado para o outro. Agora, os 2.285 dólares de Hong Kong por mês (cerca de 1.041 reais), que recebe do governo por ter mais de 65 anos, não chega para cobrir todas as despesas. Como se não bastasse, os filhos com os quais vive não ganham o suficiente. No entanto, ela está feliz. “Eu me sinto bem porque meus filhos e minhas noras me apoiam e posso cuidar da minha neta. O que me preocupa é a minha saúde e como ela vai evoluir”, diz consciente de que se um dia ela faltar, sua família não poderá pagar o aluguel dos dez metros quadrados em que vivem todos juntos.
Fonte: http://brasil.elpais.com/brasil/2016/04/08/internacional/1460110447_744683.html
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